

A morte recente de duas crianças brasileiras em decorrência de desafios online envolvendo a inalação de aerossol reacendeu o alerta para os perigos do uso precoce e descontrolado de telas e redes sociais por crianças e adolescentes. Especialistas em saúde mental, psicologia e desenvolvimento infantil apontam impactos graves e reforçam a urgência de medidas de conscientização e controle parental.
Em um cenário onde a hiperconectividade tornou-se comum desde a infância, iniciativas como o Movimento Desconecta vêm ganhando espaço ao proporem um pacto coletivo entre pais e escolas: adiar o o ao smartphone até os 14 anos e às redes sociais até os 16. A proposta tem respaldo de especialistas, como a neuropsicóloga Lilian Vendrame, que destaca os riscos à cognição, linguagem, atenção e desenvolvimento emocional.
“Crianças menores de dois anos não devem ter contato com telas, segundo a própria OMS. No entanto, vemos bebês de um ano com tablets, o que pode comprometer funções cognitivas básicas”, alerta Vendrame.
Dados preocupantes sobre saúde mental e redes sociais
De acordo com um levantamento publicado na revista científica Nature Human Behavior, adolescentes entre 11 e 19 anos com problemas de saúde mental am mais tempo nas redes sociais do que seus pares saudáveis. Já uma pesquisa do Porto Digital com a Offerwise revelou que 9 em cada 10 brasileiros acreditam que os jovens não recebem apoio emocional e social suficiente nas redes.
Essas evidências revelam um cenário preocupante que exige participação ativa de pais, escolas e governos. A psicóloga Antonia Brandão Teixeira, do Movimento Desconecta, lembra que as evidências sobre os danos do uso precoce de smartphones são recentes, mas já sólidas: “Os pais precisam se informar, conversar com os filhos e aplicar ferramentas de controle”.
Recomendações por faixa etária
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) estabeleceu diretrizes para o uso de telas conforme a faixa etária:
- Menores de 2 anos: nenhum contato com telas
- 2 a 5 anos: até 1 hora por dia
- 6 a 10 anos: até 2 horas por dia
- 11 a 18 anos: até 3 horas por dia
Ainda assim, os especialistas reforçam que o limite por si só não basta: é preciso qualidade no tempo de uso e supervisão ativa. Ferramentas de controle, como aplicativos que monitoram o tempo de tela e restringem o a conteúdos inadequados, podem auxiliar famílias nesse processo.
Sinais de alerta
Especialistas também alertam sobre comportamentos que podem indicar prejuízos mentais relacionados ao uso excessivo de telas:
- Irritabilidade ou reatividade fora do comum
- Isolamento social e perda de interesse por atividades físicas
- Mudança de humor ou de hábitos repentinos
- Dificuldade em aceitar limites impostos pelos pais
A série “Adolescência”, da Netflix, ilustra bem essa desconexão entre pais e filhos diante dos perigos da internet, como o cyberbullying. A produção serve como alerta para o diálogo aberto e vigilância contínua dentro de casa.
O que os pais podem fazer?
Além de controlar o tempo de tela, especialistas incentivam o retorno a atividades analógicas: brincadeiras ao ar livre, jogos físicos, leitura, pintura e convívio familiar. “Precisamos resgatar a convivência, o olho no olho, a criatividade sem mediação digital”, finaliza Vendrame.