Líderes indígenas cobram do papa Leão XIV devolução de artefatos mantidos no Vaticano

Na Cidade do Vaticano, lar do papa Leão XIV, encontra-se uma vasta e controversa coleção de artefatos indígenas levados há mais de um século por missionários católicos. O acervo inclui peças como um caiaque de pele de foca dos Inuit, luvas bordadas do povo Cree, cintos cerimoniais de contas wampum e colares de dente de baleia Beluga — relíquias sagradas mantidas longe das comunidades que lhes deram origem.

Esses itens foram adquiridos durante a era colonial e exibidos em eventos como a Exposição Missionária de 1925, promovida pela Santa Sé sob o papado de Pio XI. À época, a Igreja Católica buscava demonstrar seu alcance global, mesmo às custas da devastação cultural de povos originários.

Promessa de devolução ainda não cumprida

Em 2022, após uma série de encontros com delegações indígenas do Canadá e uma visita ao país, o papa Francisco reconheceu os abusos cometidos pela Igreja em escolas residenciais e prometeu devolver os artefatos mantidos no Vaticano como parte de uma “peregrinação penitencial”.

Contudo, anos depois da promessa, os objetos continuam sob posse da Santa Sé, em museus e cofres como o Museu Etnológico Anima Mundi. “Quando coisas foram tiradas e não pertenciam a outra pessoa, é hora de devolvê-las”, declarou Cindy Woodhouse Nepinak, Chefe Nacional da Assembleia das Primeiras Nações.

Impacto do roubo cultural

Para os povos indígenas, os artefatos representam não apenas cultura material, mas legados espirituais, identitários e históricos. Laurie McDonald, anciã da Nação Cree Enoch, relatou que, quando criança, foi proibida de usar objetos culturais e levada à força para uma escola residencial, onde sofreu abusos.

“Essas coisas podem parecer simples para vocês, mas para nós são muito importantes”, afirmou.

Riscos e urgência na devolução

A professora Gloria Bell, da Universidade McGill, destacou que os objetos foram reunidos em um contexto de destruição cultural deliberada. Ela afirma que o Vaticano sustenta uma “narrativa falsa” ao alegar que os itens foram doações.

Além disso, a falta de um inventário público dos objetos preocupa os líderes indígenas. Estima-se que os artefatos cheguem à casa dos milhares. Em 2023, apenas um cinto wampum foi emprestado temporariamente a um museu canadense por 51 dias — e não devolvido de forma permanente.

Esperança no novo pontífice

Leão XIV, empossado recentemente, ainda não se pronunciou publicamente sobre o tema. Contudo, a expectativa é de que ele dê continuidade ao processo iniciado por Francisco. O tema foi discutido pelo primeiro-ministro canadense Mark Carney com cardeais em Roma, pouco antes da missa inaugural do novo papa.

“Queremos corrigir os erros do ado”, disse Woodhouse Nepinak. “É isso que queremos fazer por nossos sobreviventes, por suas famílias, pela história do que aconteceu aqui e garantir que essa história nunca se apague.”

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