Congolês que vive no Brasil relata desafios com a língua portuguesa e preconceito cultural

Serge Makanzu Kiala mora no Rio desde 2016 e fala sobre dificuldades com o idioma e desconhecimento sobre a África

Rio de Janeiro (RJ), 25/05/2023 – O refugiado congolês, Serge Makanzu Kiala, durante debate no Back2Black Festival 2023, na zona portuária da capital fluminense. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

O artista plástico congolês Serge Makanzu Kiala, de 43 anos, vive no Brasil desde 2016 e tem se esforçado para dominar o idioma português. Ao chegar ao país, Serge não falava a língua, mas conseguiu se comunicar inicialmente com a ajuda de aulas de espanhol e da ONG Cáritas Brasil, organização que auxilia refugiados.

Durante oito anos, ele trabalhou no setor de atendimento ao público do Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, experiência que foi essencial para que aprendesse a se expressar melhor. “O que facilitou falar português aqui no Brasil foi meu trabalho. Quando fui trabalhar no Museu do Amanhã, no atendimento, estava sempre com o público e sempre praticando”, afirmou.

Aprender o idioma vai além da fala

Apesar de se comunicar bem, Serge ainda enfrenta barreiras com o português escrito. “A língua não é só falar, é escrever e ler para ser completa”, destacou. Para ele, a prática diária é essencial para o aprimoramento e, por isso, mesmo após deixar o emprego no museu, segue estudando para ampliar seu domínio do idioma.

Em 2023, durante o Festival Black2Black, Serge compartilhou que sua dificuldade inicial com a língua foi também a primeira forma de preconceito que enfrentou no país.

Desconhecimento sobre a África agrava estereótipos

O artista também relata um desconforto frequente: o desconhecimento de muitos brasileiros sobre a geografia africana. “Mesmo que eu fale que sou do Congo, perguntam o Congo fica onde? Amanhã te chamam de novo: angolano”, relatou. Segundo ele, essa confusão reflete a falta de informação sobre o continente africano no Brasil, enquanto, no Congo, ele mesmo já conhecia bastante sobre a cultura brasileira antes de imigrar.

A presença global da língua portuguesa

O caso de Serge reforça os desafios enfrentados por falantes de outras línguas ao tentar se integrar em um país de língua portuguesa. Atualmente, mais de 280 milhões de pessoas falam português no mundo, segundo a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (LP).

A data de 5 de maio foi reconhecida como o Dia Mundial da Língua Portuguesa pela UNESCO em 2019. Apesar de sua ampla distribuição geográfica — América, África, Europa e Ásia —, especialistas apontam que o idioma ainda carece de projeção internacional.

Falta reconhecimento como língua oficial na ONU

Para o vice-presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), Antônio Carlos Secchin, o reconhecimento do português como língua oficial da ONU seria um o importante. Ele destaca que, embora o idioma seja falado por milhões, sua presença como segunda ou terceira língua ainda é baixa em comparação com inglês, francês e espanhol.

“O português está fora das línguas oficiais da ONU. É falado como primeira língua, mas infelizmente é muito pequeno o número de pessoas que adotam o português como segunda ou terceira língua”, afirmou.

Leia anterior

ONU denuncia detenção de venezuelanos deportados dos EUA em prisão de alta segurança em El Salvador

Leia a seguir

Túnel do Tempo – Cine Saturno: ícone cultural de Valinhos segue vivo na memória da população